sábado, 4 de dezembro de 2010

A melancolia, desesperadamente

De tanto receber convites de diferentes pessoas (até onde me lembro foram quinze convites) acabei me associando a um site de relacionamentos. Nem sei direito porque, mas me associei.

Logo eu que não tenho orkut nem facebook nem twitter. E olha que amo informática. Sou técnico, inclusive, pra quem não sabe. Domino alguns programas gráficos, desmonto e remonto um micro de olhos vendados e sou rato de internet. Sou capaz de passar uma madrugada navegando e garimpando coisas das mais variadas. Sou capaz de passar um final de semana inteiro dentro de casa sozinho com meus gatos e um computador com acesso.

Não tenho nenhum dos três citados por que considero coisas de moda e dispensáveis. Alguém lembra de quando era "obrigatório" ter orkut? Eu ainda me lembro do tempo em que o carinha que não usasse sapato de bico fino para ir à discoteca dançar e azarar as meninas, "estava por fora". Isso há mais de 30 anos, of course. E eu não tenho saco para modismos. Ah, eu usei sapato de bico fino, sim, mas, há mais de trinta anos eu era um guri idiota. Hoje, não sou mais guri.

Não vou dizer o nome do site por que não pretendo fazer propaganda. Segundo o tal site, de 29 mulheres e um homem que acessaram meu perfil (sim, teve um cara que acessou), 20 querem me conhecer. Quando cliquei para saber quem eram, me pediram 50 dólares para ativar meus superpoderes e ficar sabendo os nomes. Meu, eu prefiro ter um filho viado do que um filho com superpoderes! Grande seu Lili! Bem capaz que vou gastar suados 50 dólares com uma coisa dessas!!! Quem quiser me conhecer que use o chat do tal site e diga: Oi! Chega a ser idiota de tão simples!

Viajei. O que eu queria falar era de outra coisa. As duas palavras que mais tenho lido no tal site quando acesso os perfis de mulheres "aparentemente" interessantes são deus e felicidade.

Eu sou ateu, então nem preciso me alongar sobre a primeira palavra. Já a segunda, felicidade, eu acho um saco. Gente feliz é um saco. Gente feliz não pensa. E eu prefiro gente que pensa. Ou ao menos que pense que pensa. Como eu. Gente feliz "aproveita a vida". E, com raríssimas exceções, não olha pros lados. Cara, como vou ser "feliz" vendo, ouvindo e lendo tudo que está acontecendo? Não sou cego, não sou surdo e aprendi a ler com seis anos de idade. Portanto, não sou feliz.

Aliás, melancolia deveria ser ensinado nas escolas. É preciso ser um pouco melancólico para entender a profundidade da vida. Eu cultivo minha melancolia. Não a deixo tomar conta, por que já tive depressão e gente depressiva é tão cansativa quanto gente alegre. Mas a deixo sempre por perto, a melancolia. Não quero perder essa perspectiva diferente, esse olhar que se distancia propositalmente do que é bonito e fácil. Eu quero continuar enxergando aqueles que não possuem nada, aqueles que choram sem fazer alarde, aqueles que sentem dor sem dar um gemido. Não me peçam para ser feliz ou para fazer alguém feliz. Essa não é minha função.

E, como diz a Joice, que eu ainda não sei se é a Joice de quem eu gostava muito e nunca lhe disse ou se é outra Joice, uma nova Joice, mas que escreve bem pra caralho: eu não vim ao mundo pra fazer volume!

Outro dia, se ela deixar, coloco aí ao lado um link para o blog dela.

Pra quem pensa que pensa sugiro uma leitura: A felicidade, desesperadamente. O título é genial, porque engana. O autor é André Comte-Sponville. Tem gente que acha que o cara fala em felicidade. Eu acho que ele fala de vazio. Tire suas próprias conclusões. Se quiser me dizer o que achou, comenta ali onde eu pergunto: Vai ficar quieto?

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Guilherme Tolotti disse...

A palavra que me vem na cabeça quando lembro desse livro do Sponville é "ansiedade", mas acho que "vazio" é a palavra que representa o outro lado da questão, a superação dessa ansiedade.