segunda-feira, 5 de março de 2012

Lixo é um problema pessoal


Eu vivo em apartamento. É importante frisar isso antes de começar a leitura que segue.

Há seis anos, todo o lixo orgânico produzido na minha cozinha, vira "terra" na minha sacada. Reservei um canto da sacada e ali fiz minha composteira. Nos primeiros dias, como não sabia bem por onde começar, eu comprei terra pronta no supermercado e, a cada porção de lixo descartado, jogava um pouco daquela terra sobre ele.

Atualmente, toda a terra usada em um grande canteiro do outro lado da sacada é produzida ali mesmo. E os vários vasos com plantas dentro de uma pequena peça, que recebeu o sugestivo nome de sala de reciclagem, também contêm a mesma terra. Dentro dessa mesma sala, em um certo canto, descansa uma terra excedente que pode, quando necessário, ser usada para cobrir o lixo orgânico recém adicionado à composteira. Ou seja, a composteira já é auto-suficiente.

Numa conta simples, digamos que eu produza, em média, um quilo de lixo orgânico por dia. Trezentos e sessenta e cinco quilos por ano. Em seis anos, deixei de descartar 2190 quilos de lixo orgânico para que a prefeitura o escondesse de meus olhos e, principalmente, de meu nariz.

Mais de duas toneladas!!!

Nessa mesma sacada e nesse mesmo período, eu adotei outra prática ecológica. Com oito gatos em casa, ou melhor, dentro de um apartamento, muita areia teria sido comprada e descartada ao longo de seis anos. Mesmo sem nunca ter ouvido falar que alguém já tivesse feito isso (e até hoje não sei de mais ninguém que o faça) eu resolvi começar a reciclar a areia dos gatos, ao invés de simplesmente jogá-la na calçada para a prefeitura recolher.

Esse procedimento começou por acaso, na verdade. Incomodado com a quantidade de areia usada que eu descartava em sacolinhas de plástico, comecei a acumulá-la na sacada exposta às intempéries, sem saber muito bem o que fazer com ela. Um dia, quando precisei remanejar o espaço, exatamente para começar a composteira, percebi que a areia acumulada não tinha mais aquele cheiro fortíssimo de amoníaco. Toda a urina tinha sido lavada pela água da chuva! Espalhei-a na sacada e deixei ao sol para que secasse. Em velhos potes de sorvete fiz vários furos com um prego quente e usei-os como peneira para desmanchar os grumos grandes, afinal essa "areia" na verdade é uma terra argilosa. Acomodei-a em algumas garrafas de cinco litros de água e, voilá!, eis que tinha novamente vários quilos de areia pronta para ser reutilizada.

Um tempo depois já dispunha de duas caixas de madeira onde comecei a juntar toda a areia com urina, já que as fezes são recolhidas ao vaso sanitário. Quando não chove com frequência, utilizo a última água da máquina de lavar roupas para jogar sobre a areia nas caixas. Também pode ser usada água da pia com sabão, desde que não esteja saturada de gordura. Não tenho um tempo exato para recolher, mas, depois de um mês exposta, se recebeu água todos os dias, a areia já pode ser recolhida para secar e ser peneirada novamente. Até hoje, passados seis anos, ela mantém as características básicas depois de seca: absorve muito bem a urina e praticamente elimina o cheiro das fezes quando os gatinhos as cobrem. A tal "sala de reciclagem" é usada para o processo de secagem e peneiragem. O lugar tem que ficar a salvo dos gatos durante o processo ou então, antes que ela esteja pronta para o reuso já estará cheia de pequenos pontos de urina. : ) Se puder secar ao sol, o resultado na eliminação do cheiro residual será perfeito. Se não for possível, um cheiro muito leve ficará na areia, não impedindo o seu uso.

Aqui também cabe fazer contas. Eu deixei de comprar, em seis anos, um pacote de cinco quilos de areia por semana. Quatro pacotes ou vinte quilos por mês. Duzentos e quarenta quilos por ano. Em seis anos, 1440 quilos de areia! Quase uma tonelada e meia!!!

Há dois aspectos em tudo isso que acabei de descrever. Em primeiro lugar, nesses seis anos, eu deixei de jogar na natureza 3630 quilos entre dejetos orgânicos e argila contaminante. Por outro lado, deixei de comprar uma tonelada e meia de areia que teria me custado em torno de 1.800 reais. Acrescendo a essa conta a terra que não comprei para poder ter meu jardim na sacada e dentro da sala de reciclagem, minha economia passou de dois mil reais em seis anos.

Eu já disse anteriormente e não custa lembrar: ser econômico é um grande ato ecológico.

Para terminar, outro dia recebi uma crítica por ainda pegar sacolinhas plásticas no supermercado onde faço compras. Por outro lado, além de sempre solicitar que os empacotadores usem menos sacolas do que estão acostumados, eu as uso para recolher todo o lixo reciclável produzido na casa. Muito se têm falado sobre as sacolinhas plásticas, mas, o que muita gente não sabe ou não diz é que a existência delas não é o problema e sim a maneira como são descartadas. Descartadas em meio ao lixo orgânico viram um enorme problema ambiental. Além disso, mesmo um saco de lixo plástico comprado com a finalidade única de descartar o lixo orgânico polui muito mais do que uma sacolinha descartada junto com o lixo seco. O saco de lixo vai para um aterro "sanitário". A sacolinha vai para uma usina de reciclagem. Portanto, na questão das sacolinhas, minha consciência está tranquila. Por outro lado, se voltarem os sacos de papel, vou adorar a ideia. Além de charmosos, são muito mais fáceis de reciclar. Aliás, meu primeiro emprego foi como empacotador do antigo supermercado Econômico no Jardim Lindoia, aos 13 anos de idade. Só existiam os sacos de papel e ninguém reclamava.

Então, não espere que o governo resolva todos os seus problemas. Reclamar sem fazer nada é, além de deselegante, um comportamento ultrapassado. O mundo mudou. Ou ainda não percebeu?

4 Deixe seu comentário::

Álvaro Diogo disse...

Nossa!

Muito interessante a maneira que cada um de nós encontramos para resolver nossos problemas pessoais.

Eu e minha família já praticamos a reciclagem há algum tempo, mas com seus altos e baixos. Por um tempo uma ONG recolhia em casa, depois passei a levar no ecoponto da prefeitura, aí me mudei e na minha nova casa há um vizinho que é catador de recicláveis, passamos então a destinar para ele.

Assim que me mudei resolvi começar uma compostagem, mas como nunca fiz nada do tipo foi tudo de maneira empírica e depois com minhas dúvidas sanadas nas aulas de resíduos sólidos que tive na faculdade (curso saneamento ambiental). Faz mais de seis meses que tenho aqui, mas a faço no quintal em um "buraco" na terra. Já me gerou mt composto que aleém de usar no meu quintal às vezes levo pro parque da cidade ou para amigos que possuem jardim, além de ter evitado incalculáveis sacos para a prefeitura recolher. Aliás separando os recicláveis e compostando o orgânico sobra-se os míseros saquinhos do banheiro para a prefeitura recolher.

Agora o que me intrigou foi sua reciclagem da areia do gato, acho que vou tentar desenvolver essa técnica aqui também. Tenho um gato só, minha economia seria 1/8 da sua, mas toda ajuda ao meio ambiente e ao nosso bolso é bem vinda!

Obrigado por compartilhar essas informações, e saiba que apesar de não comentar em todos os posts estou sempre acompanhando as atualizações via Google Reader.

Abraços!

Felipe Cardoso disse...

Muito bom! parabéns!

Vou testar essa técnica de reciclagem de areia de gatos! Tenho 5 e a maior parte do lixo que ponho na calçada corresponde à isso!

Seria legal se vc pudesse fazer um post só para isso com todos os passo detalhados! seria muito util pro mundo! =D

Tomás Cardoso disse...

Acabei de ter essa idéia óbvia de reciclar a areia dos gatos e encontrei sue post ao buscar a idéia no google. Obrigado por compartilhar a experiência!

(Aliás, grande exemplo esse da composteira no apartamento! O esclarecimento acerca do descarte das sacolas plásticas também é muito relevante.)

Abraços

disse...

Olá.
Eu estive lendo essa postagem que é de 2012 e achei interessante a ideia de reciclar a areia dos gatos. Você continua fazendo esse processo ?
Eu já estive pesquisando sobre isso um tempo atrás e ví que tem pessoas usando um forno solar para fazer a reciclagem.Eu até comprei papel alumínio para fazer um forno solar, mas acabou que não tive muito tempo e até hoje não fiz o tal forno.